Ufanismo internacional

O jornal inglês The Guardian publicou ontem uma matéria sobre o Brasil, anunciando que "o país do futuro havia finalmente chegado". Sob o título original The country of the future finally arrives, o artigo propaga o otimismo gerado pela recente série de triunfos alcançados pela economia nacional.

Garotinha carioca: foto ilustrativa - por Douglas Engle/AP

O correspondente Tom Phillips destaca o papel econômico das exportações e descobertas de petróleo, ao afirmar que "o gigante da América do Sul está acordando". A matéria aborda uma série de mudanças que ocorreram após a superação de "várias crises políticas e 21 anos de regime militar", que restringiam o enorme potencial de crescimento do país.

Ele inicia a matéria entrevistando brevemente o prefeito de Guaratã do Norte, no estado do Mato Grosso, cuja empolgação com o plantil da soja serve para ilustrar o efeito positivo do alto preço das commodities na agricultura nacional. O mesmo entusiasmo é compartilhado pelo o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que é citado apontando o Brasil como líder mundial na produção de carne, café, açúcar, sucos de frutas, e segundo na produção de grãos. O alavancamento no lucro das exportações nacionais é assim resumido:

De laranjas e minério de ferro a biocombustíveis, as exportações brasileiras estão disparando, criando uma nova geração de magnatas. O clube de milionários brasileiros cresceu de 130.000, em 2006, para 190.000 no ano passado - um dos ritmos mais rápidos do mundo, de acordo com um estudo do Boston Consulting Group.

A matéria ainda destaca o ótimo desempenho da Bovespa (apesar da instabilidade no cenário internacional), a conquista do Grau de Investimento e a valorização do Real em relação ao Dólar por nove anos seguidos. Além de citar, é claro, as sucessivas descobertas de petróleo que fizeram o presidente Lula (que ele chama de Sheikh) declarar que "Deus é brasileiro".

Ao final, o ufanismo dá lugar ao questionamento inevitável sobre a capacidade do Brasil continuar crescendo no futuro. Pois, apesar dos enormes avanços econômicos, a infra-estrutura e o sistema educacional do país ainda são sub-desenvolvidos. Além disso, não existe garantia de que os preços das commodities vão se manter neste patamar elevado.